Fala, Disconectors!
Existe uma ideia muito difundida no universo do áudio que precisa ser revista com urgência: a de que a "era de ouro" do som hi-fi morreu nos anos 70. E junto com essa ideia, vem o culto às marcas consagradas, aos equipamentos cromados pesando 20 quilos e aos preços que fariam um colecionador de vinil chorar no banho.
Mas e se eu te dissesse que há uma geração de equipamentos completamente negligenciada, escondida entre os anos 80 e 90, que entrega uma qualidade de som excelente e ainda por cima custa uma fração do que pedem por um receiver Marantz setentista?
Hoje o papo é sobre essas joias esquecidas. E te garanto: depois de ler isso, você nunca mais vai olhar para um receiver dos anos 90 da mesma forma.
Já é vintage — Só que você ainda não percebeu
Quando falamos em “equipamento vintage”, muitos ainda pensam em válvulas, madeira nobre e painéis cromados de 50 anos atrás. Mas tecnicamente, um objeto passa a ser considerado vintage quando atinge 20 anos de idade. Sim, isso significa que até equipamentos lançados em 2004 já entraram nessa classificação.
Pode parecer estranho pensar em algo dos anos 2000 como antigo, mas a percepção de tempo é geracional. Para quem nasceu depois da virada do milênio, um receiver da década de 90 é tão retrô quanto uma vitrola dos anos 60 era para quem cresceu nos anos 80.
E aí que mora o pulo do gato: essa geração de aparelhos é subestimada, desvalorizada e, por isso mesmo, perfeita para quem quer qualidade sonora com orçamento apertado.
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Receivers como o Onkyo TX-840, Pioneer VSX-2600 ou Sony STR-D615 não são apenas robustos — são verdadeiros tanques. Muitos desses aparelhos seguem funcionando perfeitamente após décadas, resistindo a variações de temperatura, umidade e até certo descuido. Alguns vêm com recursos que hoje seriam considerados luxos: várias entradas, controle remoto, tomadas auxiliares... tudo isso por preços modestos se comparados aos queridinhos das décadas anteriores.
E a mesma lógica vale para as caixas acústicas. Modelos de estante da PSB, Polk, JBL ou Boston Acoustics — especialmente os das linhas Alpha, HLS e HD — entregam um som equilibrado, limpo e com excelente imagem estéreo. São ótimos para sistemas secundários, escritórios, estúdios caseiros ou até como seu setup principal se você estiver com o pé no freio do orçamento.
Enquanto isso, muitos alto-falantes novos, como os populares Sony SS-CS5, vendem pela embalagem bonita, mas decepcionam no resultado prático. Às vezes, a melhor escolha está fora do radar.
No Brasil, o desafio é outro
Enquanto lá fora esses equipamentos ainda aparecem por US$ 30, US$ 50 ou até menos, por aqui a história é outra. Atribuir o rótulo de “vintage” costuma ser o suficiente para triplicar o preço — mesmo quando o aparelho está em estado apenas razoável.
Ver um Pioneer VSX ou um Sony STR acima de R$ 1.000 não é raro. E isso sem revisão, sem garantia e muitas vezes sem sequer saber se todas as funções estão operando.
Mas pior do que o preço é outro fator: a manutenção. Encontrar uma assistência técnica confiável e especializada em som vintage no Brasil não é tarefa simples. Em muitas cidades, simplesmente não há. E quando há, os prazos são longos e o custo da manutenção pode ultrapassar o valor do próprio equipamento.
Por isso, o alerta: se você não tem por perto alguém de confiança para revisar e consertar equipamentos antigos, talvez seja melhor repensar essa aventura. Comprar no impulso pode acabar em frustração. Mas, se você tem acesso a um bom técnico — ou se você mesmo arrisca fazer a manutenção básica —, as chances de montar um sistema de som excelente gastando pouco são reais.
E mais: esses equipamentos foram feitos para durar. São de uma época em que a lógica ainda era construir para a vida toda. Quando você segura um receiver dos anos 80 ou 90, sente isso no peso, na solidez dos botões, na resposta do som. Não é nostalgia — é engenharia.
Menos glamour, mais música
Explorar o áudio vintage fora da bolha dos anos 70 é mais do que uma decisão financeira — é uma mudança de olhar. Em vez de buscar prestígio de marca ou aprovação estética, você começa a buscar aquilo que realmente importa: a experiência sonora.
A maioria desses equipamentos esquecidos não vai enfeitar capa de revista de decoração. Mas vão te entregar grave, médio e agudo com personalidade e clareza. Vão te fazer redescobrir discos que você achava que conhecia de trás pra frente.
Então da próxima vez que encontrar um Onkyo encardido, um par de PSB Alpha em um brique ou um Sony STR jogado num canto de loja de usados, pense duas vezes antes de virar o rosto. Pode ser o melhor investimento que você vai fazer esse ano.